Um date comigo mesma

Era um sábado no final da tarde e uma amiga tinha acabado de cancelar um jantar comigo por conta de um imprevisto. Na mesma hora, me visualizei tomando um banho, colocando meu pijama e selecionando um filme ou uma série para comer com pipoca. 

O problema é que eu estava extremamente inquieta. Tinha passado por uma semana na qual a ansiedade tinha sido uma grande companhia e a danada ameaçava se fazer presente em mais um dia caso eu de fato ficasse em casa. 

Escolhi, então, uma roupa bem bonita, me arrumei, peguei meu carro e fui pro shopping. Na hora que estacionei, experimentei a primeira deliciosa sensação de muitas que aquela noite me reservava: eu estava sozinha. Podia fazer o que eu bem entendesse. 

Comecei, claro, na livraria. Vi todos os livros que eu queria com calma. Sentei para ler várias sinopses. Troquei ideias com uma das vendedoras. Olhei os itens de papelaria sem ninguém dizer que eu já tinha muita coisa e não deveria pegar nada – e claro que, sem impedimentos, acabei levando uma caneta nova e um bloquinho de anotações. 

Depois, fui às minhas lojas favoritas de roupas e experimentei peças de tudo quanto é tipo. Afinal, eu não tinha hora: podia me divertir o tempo que eu quisesse com as combinações que eu ia criando e com as fotos que fazia no espelho – apesar de, dessa vez, não ter comprado nada.

Até que me deu fome e parei em um dos meus lugares favoritos para comer. Pedi três empanadas, uma bebida e me sentei no canto onde podia observar todo mundo que entrava e saia. Abri o bloquinho recém adquirido e, enquanto eu comia, deixei minha mente correr solta. Claro que o resultado foram vários poemas despejados nas folhas novinhas de papel.

Quando voltei para o carro, estava… completa. A ansiedade não tinha dado as caras. Explorei uma livraria sem pressa. Testei novos estilos de roupa. Comprei algumas coisas que eu precisava. E a poesia foi a minha companhia na hora do jantar. 

Dizem que a gente conquista a verdadeira solitude quando passamos horas sozinhos sem nem perceber ou sentir falta de outras pessoas ao nosso redor porque estamos totalmente preenchidos por dentro. Naquele sábado à noite, eu senti meu universo finalmente alinhado depois de dias de uma confusão muito grande. 

Tem horas que tudo o que a gente precisa é passar um tempo com a melhor companhia que existe: a nossa. Ela sabe exatamente o que fazer para nos ajudar a sair dos buracos que caímos de vez em quando.