Por que escrever diários na vida adulta?
Um dos meus hobbies preferidos é escrever em diários. Algumas pessoas podem se perguntar: Por que ter um diário? Ainda mais, por que ter um diário quando já se é adulto (quando o diário muitas vezes é pensado como algo mais voltado para crianças e adolescentes)? Bom, vou tentar explicar…
Eu comecei quando era criança. Um dia, ganhei um da minha avó e eu, que sempre gostei de coisas de papelaria, amei ter um caderno todo lindo (da Hello Kitty, com folhas decoradas e coloridas), no qual poderia escrever com minhas canetas preferidas. Na adolescência, na mudança do Fundamental II para o Ensino Médio, no ano novo de 2012 para 2013, resolvi voltar a escrever em um caderno. Dessa vez ele era vermelho, liso, daqueles que você encontra na papelaria do seu bairro. E eu, que sempre amei fazer colagens, peguei minhas revistas adolescentes, um papel de presente e personalizei este caderno que seria (e é) tão importante para mim.
Comecei com a ideia de escrever todos os dias (como diz o próprio nome “diário”), mas com todas as mudanças – de escola, demandas por conta dos vestibulares, etc- eu só consegui voltar a preenchê-lo em dezembro daquele ano. E desde então, ele serve como um caderno de retrospectiva: todo fim de ano eu paro para escrever uma reflexão e fazer uma colagem com fotos daqueles 365 dias.
Nesta passagem de ano, de 2022 para 2023, foi incrível e tocante reler tudo. Perceber como a minha letra, forma de escrever, gírias, referências, e a maneira de enxergar as coisas foi mudando ao passar dos anos – dos 14 aos 24. É muito emocionante ter na palma das mãos um registro das fases da vida, do processo que é crescer.
Durante a pandemia, percebi que poderia ser a minha chance de voltar a ter um diário e assim o fiz. Escolhi um caderno da minha coleção e comecei a escrever. Foi uma maneira de cuidar de mim, do turbilhão de emoções e incertezas que este momento trouxe. Foi uma forma de elaborar o que eu sentia, e também desabafar, nem que seja para um caderno. Depois disso não parei mais.
Outro motivo que me faz gostar tanto deste hábito é pensar que alguém, no futuro, pode ter acesso ao meu cotidiano e aos meus pensamentos num determinado ano. Um ótimo exemplo disso é o diário do meu avô materno, algo muito precioso para mim. Ele faleceu antes de eu nascer, então jamais tive a chance de conhecê-lo. A única maneira que o tinha conhecido foi por meio de fotografias, alguns raros vídeos, e do que a minha nonna, minha mãe e meus familiares tinham a dizer sobre ele. Então, quando encontrei o diário dele foi uma chance incrível de ler e conhecer um pouco mais sobre a sua história, agora através das palavras dele.
Neste diário, ele contava sobre a sua rotina, quando já aposentado: o que ele havia plantado no pequeno sítio, das frutas que havia comprado na feira, como tinha sido o dia, com quem ele havia conversado, e até mesmo passagens importantes como dias antes do casamento dos meus pais e dos meus tios, pelo ponto de vista dele. Ver a letra, a forma de escrever, a maneira que ele misturava o italiano com o português em cada frase… tudo me emocionou. E me motivou a pensar que talvez eu queira deixar isto para a minha família para, quem sabe, um(a) filho(a), sobrinho(a) e/ou neto(a) possa me conhecer melhor, pelas minhas palavras.
Talvez sejam todos estes os meus motivos para se ter um diário. Você pode escrever num caderno lindo ou num simples, num pronto ou em um personalizado, pode escrever todo dia, a cada mês ou até mesmo a cada ano. Colocar fotos, recordações, escrever com uma letra linda ou com uma apressada, dependendo do tanto que você tem a dizer. Cada pessoa pode ter o seu próprio jeito de preenchê-lo – é você quem manda onde, como e porquê.
O importante é se colocar ali, se fazer presente e se expressar naquelas páginas que, depois de
preenchidas, já não serão mais as mesmas. Serão um fragmento de você – seja para
você reler após dez anos ou uma lembrança sua, daquela época, para alguém que queira muito te conhecer de alguma maneira, seja ela qual for.
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