O outono chegou (dentro e fora de mim)
Estava passeando com meu cachorro em uma tarde quando percebi, embaixo de mim, um tapete de flores roxas decorando o chão. Olhei pra cima e mais pétalas caiam da árvore para acompanhar aquelas que já haviam desprendido dos galhos. O outono anunciando que a sua chegada estava próxima.
A verdade é que eu não precisava ter visto esse cenário acontecendo ao meu redor para saber que mais uma estação está finalizando. Eu sinto essa mudança dentro de mim.
Vivi o verão do mesmo jeito de sempre: colorido, alegre, ansioso. Intenso. Com uma urgência enorme para experienciar tudo ao mesmo tempo. Com uma energia verdadeiramente solar para tirar projetos do papel como se o mundo fosse acabar amanhã.
Ninguém mandou ele acontecer justo no final do ano, quando sinto uma vontade gigante de correr atrás dos meus sonhos. Nesta fase, todos os raios de luz são muito bem-vindos para os saltos e acrobacias que me sinto preparada para dar.
Mas uma hora os ânimos começam a se acalmar. Os primeiros meses passam e trazem com eles a sabedoria sobre a necessidade de viver um dia por vez, sem grandes pressas e respeitando o tempo das coisas. E, conforme as folhas dão seus primeiros sinais de que trocarão de cor, percebo os meus movimentos internos também diferentes. Mais introspectivos. Mais voltados para mim.
É a natureza que existe em nós mostrando que, depois da maratona que corremos até aqui, chegou o momento de parar, respirar fundo e entender para onde iremos a partir deste ponto. O que deixaremos desprender de nós e o que levaremos conosco. O que está pesando a nossa bagagem e que podemos deixar pelo caminho para que a nossa jornada seja mais leve. Quais flores que apareceram nos últimos meses criaram raízes fortes o suficiente para continuarem conosco, e quais irão florir outros lugares (e pessoas).
Tem gente que acha a paisagem outonal triste. Folhas secas, galhos intermináveis, árvores vazias. De fato, transformações não são sempre lindas de se ver. Algumas são bastante sofridas e nos fazem pensar que nada mais conseguirá crescer (dentro e fora de nós).
Mas a verdade é que existe muita beleza em se preparar para algo melhor. Em conseguir se ver livre do que não nos serve mais. Em deixar espaços para algo novo germinar. E germina. Porque ainda existe muita vida pela frente.
Sem outono, não há primavera. Sem mudança, não há evolução. Naquela tarde em que caminhei sobre folhas roxas no chão, com algumas pétalas pelo cabelo, fechei os olhos e agradeci por poder sentir mais uma estação chegando. E arrisco dizer: a mais encantadora.
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